Proclamação de Nossa Senhora como Rainha da Igreja, de todas as Dominações Celestiais e Humanas.
Leitura do painel – direita para esquerda:
O Altar-mor da Basílica do Santuário do Sameiro foi transformado na Porta do Céu.
Nossa Senhora é escoltada pelos Guardas Pontifícios que marcam a própria Roma, estes, juram fidelidade À Imaculada sobre a bandeira do Vaticano.
Os Anjos que acompanham a Senhora, tomando o Seu manto:
O anjo que se encontra em primeiro plano, sustenta nos braços o Manto da Bem-Aventurada Imaculada Conceição, como que assumindo a responsabilidade pela directa e eterna proximidade com a Divina Unidade, e recebedores da Luz de Deus. Este, com o pé esquerdo um degrau abaixo do direito, revela – O Primeiro Coro: Serafins – a ordem mais elevada dos Angélicos Servos de Deus.
O segundo Anjo de asas abertas personifica também, a tríade mais elevada. São eles que cantam incessantemente em Hebreu o Trisagion – Kadosh, Kadosh, Kadosh – “ Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos, o mundo inteiro está cheio da Sua Glória” enquanto andam em redor do Trono.
Aqui, auxiliam a Mãe Do Salvador a carregar o peso do Universo, deste modo, são seres de pura luz e pensamento, que ressoam como fogo do amor (simbologia – vestes luminosas, asas matizadas e cabelos flamejantes). Na cabeça sustêm um laurel, cujas folhas de cada ramo elevam-se até unir numa estrela (os que guiam e amparam). É a génese da concepção Glória, Virtude e Honra. “Quem mais Bem-aventurado do que aqueles que assistem a Mãe do Messias?”
Entre os Anjos, descobre-se uma criança vestida de branco, símbolo da singeleza, simplicidade, humildade e Fé. O sorriso exterioriza o quão feliz está por ver Nossa Senhora.
É de realçar, o pajem sentado no degrau.
Numa atitude traquina, o pequeno, senta-se e deixa por momentos cair o manto demasiado pesado para carregar…
Este personagem simboliza um Querubim Humanizado “ portador do Trono de Deus”.
O enigmático pajem aproxima-se mais do pensamento renascentista, anterior aos rechonchudos bebezinhos alados que esvoaçam graciosamente nos cantos dos tectos barrocos.
O manto, azul Universo, forrado a Arminho (pureza e castidade), envolve A Mãe do Salvador – ainda em gestação no ventre de Maria.
O braço direito da Virgem resguardado pelo manto, sugere que esta afaga o Filho no regaço. O drapeado do tecido, induz a esse estado.
O braço esquerdo, ao mesmo tempo que sustenta para Si o volume da indumentária, torna visível a mão que exprime a humildade de ter sido Escolhida antes de nascer para ser o tabernáculo de “Jesus” – Imaculada Conceição – A Própria concebida sem pecado original.
De um rosto sereno, encantador, a dar-nos confiança, A Cândida Figura revela traços semelhantes aos da imagem que se eleva no Altar-mor do Santuário do Sameiro, embora reinterpretados de uma forma contemporânea. Esta tem uma feição mediterrânica, particularmente relacionada à mulher do norte de Portugal, Destacando-se, todavia, linhas orientais e do Norte da Europa.
Sobre a Sua cabeça uma coroa de doze estrelas, simbologia alusiva à passagem do Novo Testamento – Apocalipse /12 – “ A mulher e o dragão”. Este excerto explica, em grande parte, a inspiração para a representação da Imaculada Conceição no painel “Salve Regina”.
O enigma no desvio do olhar, revela-se na atenção que desperta, quando sente a Unção Do Espírito Santo, figurado na pomba (canto superior direito), de onde descem raios de luz, iluminando A Senhora e o pensamento do Papa Pio IX representado com a Teara, símbolo do poder dado por Deus e também, símbolo de Ensinar, Governar e Santificar. A Teara traduz igualmente A Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Ao envergar os paramentos de entronização Pontifícia e ao estar representado em segundo plano à direita da Imaculada, assume o lugar mais valorizado das hierarquias caracterizadas no painel. Pio IX com o dedo em riste, proclama O Dogma da Imaculada Conceição.
O Padre Martinho, num plano afastado, à direita de Pio IX, marca a ocasião Histórica da Fundação do Monumento dedicado À Padroeira de Portugal.
Olhando para os que o sucedem nas ocasiões mais importantes do Templo Mariano; com as mãos juntas, sela a legação humana – “Agora cabe-vos a responsabilidade de prosseguir a missão que Deus me incumbiu na Terra…”.
A distância perante as restantes figuras, simboliza o próprio afastamento da sua intervenção nas Crónicas do Santuário.
São Pio X, prostra-se oferecendo a coroa a Nossa Senhora do Sameiro em nome das mulheres de Portugal, ao mesmo tempo que o olhar acompanha o movimento de elevação da “Coroa Mariana”.
Sobre a cabeça uma Auréola “Latim – Aureus”, que significa ouro. Tal representação é usada pelas mais diversas culturas para simbolizar a soberania, O Divino, ou o intelecto elevado. Pode ser encontrada na representação pictográfica dos santos e “ Iluminados”. São Pio X é a figura, de entre as representações humanas, a única Santificada.
O Arcebispo Primaz de Braga, Dom Jorge Ortiga – com Mitra e Báculo – representa A Igreja Bracarense a testemunhar a entrega da Rosa de Ouro.
Como Anfitrião do povo, recebe a Augusta Mãe dos Lusitanos.
Por baixo do dossel ou sobrecéu, com as Armas da Real Confraria de Nossa Senhora do Sameiro, o Papa João Paulo II entrega ao Santuário a Rosa de Ouro, confiando-a a Monsenhor Cónego Doutor Eduardo Melo Peixoto, Presidente da Real Confraria e representante máximo do Templo Bracarense, no momento desse vinculo Memorável, comemorativo do centésimo quinto aniversário da Proclamação da Imaculada Conceição e do centenário da Coroação da Imagem de Nossa Senhora do Sameiro.
O Sumo Pontífice João Paulo II, que em 15 de Maio de 1982 visita o Santuário, neste painel, é representado a acenar risonho ao espectador. Ao mesmo tempo, louva Maria que nos visita. Ao lado, monsenhor Melo Peixoto enverga uma Casula bordada a ouro do século XVIII exposta no Museu da Sé Primacial de Braga, simbolizando a ligação que teve com a Catedral enquanto Deão, e pelo momento solene representado no painel, o impor. Monsenhor sustenta na mão esquerda a Rosa de Ouro, enquanto que a mão direita em primeiro plano relativo à “Rosa”, a apresenta À Imaculada e aos fiéis.
O Painel é constituído por 7 módulos:
2 Módulos superiores,
3 Módulos centrais;
2 Módulos inferiores.
A obra foi executada em óleo sobre tela de linho, a um ritmo de 8 a 16 horas por dia durante 15 meses. As suas medidas são de 480cm x 420cm.
Para distribuição das figuras no espaço, foi adoptada na composição, a estrutura horizontal, auxiliada por uma vista de cima.
A distribuição de todos os elementos está balanceada pelos jogos de cor e luz, de forma a destacar a figura principal.
O painel está dividido em três fracções pictográficas:
Fracção central – elementos figurativos;
Fracção superior – elementos arquitectónicos;
Fracção inferior – pavimento.
A fracção central, por si só, é dividida em dois temas: O sagrado e o laico. O sagrado composto pela porção correspondente à esquerda do espectador e o laico ao oposto, tendo como ponto de referência a figura central.
A fracção superior, é composta por uma reinterpretação dos elementos arquitectónicos do interior da Basílica, no entanto, alguns elementos foram acrescentados ou alterados.
A fracção inferior, é realçada pelos degraus do Altar-mor cujo tom rosado foi acentuado, pelos frisos de inspiração Bizantina que foram acrescentados no pavimento de mármore e pela tapeçaria de estilo Inglês que demarca o tema laico.
A pintura está desenvolvida com detalhes sumptuosos. O cromatismo e minúcia das vestes (paramentos, túnicas, etc.), os elementos decorativos e a brilhante iluminação ambiente, realçam a figura central. Esta é o núcleo de uma só história composta por muitas outras…O olhar dificilmente consegue abranger a obra como um todo…
Para a distribuição das cores, foram adoptadas fórmulas de Rubens e Veronese, embora os tons sejam estudados e particulares da obra em questão: Os brancos, os dourados os tons de rosa e carmim, os azuis e tons de petróleo. Os últimos dominam vibrantes, embora despretensiosos, valorizando a naturalidade e realismo das representações e dos materiais (veludos, dourados e prateados metálicos, damascos, brocados e cetins, jóias e o Arminho do manto).
Para o desenvolvimento da pintura foram estudadas as seguintes obras e respectivos autores:
Richard II, king of England – Wilton Diptiych: 1377 – 1413;
Marriage of the Virgin – Master of Morgan: 1420 – 30;
The Virgin of Chancellor Rolin – Jan Van Eyck: 1436;
Retábulo – Mor de Portinari/A Adoração dos pastores – Hugo Van der Goes: 1440 – 42;
Etienne Chavalier presented by St. Stephen – Jean Foquet: 1450;
A Flagelação de Cristo – Piero Della Francesca: 1415 – 1492;
The Coronation of the Virgin – Quarton
François de chateau briand présenté par Saint Maurice – Maitre deMoulins:1500
Adoração dos Magos – Sandro Botticelli: 1445 – 1510;
Marriage at Cana – Paolo Veronese: 1563;
Calling of St. Matthew – Michelangelo Merisi du Caravaggio: 1597 – 1601;
The Coronation of Napoleon and Josefine – Jacques Louis David: 1805 – 07;
O Voto de Luís XIII / Cópia servil de Rafael – Ingres: 1824;
Foram também estudadas obras de: Adraen Isenbrant, Alejo Fernandez Domenikos Theotokopoulos – El Greco, Rubens, Luís Dalmau, ente outros.
Bibliografia:
Great Paintings of the Western World – Alison Gallup, Gerhard Gruitrooy and Elizabeth M. Weisberg;
Peinture . Couleur . Histoire – Collection établie et dirige par Albert Skir;
La Peinture Française – De Fouquet à Poussin;
La Pintura Española de Altamira al Siglo XX – Carlos Arean, Miembro de la “Associação Internationale de critiques d’Arte”;
El Prado – Alfonso E. Pérez Sánchez, Manuela Mena Marquez, Matias Díaz Padrón, Juan José Luna, Joaquin de la Puente;
O Grande Livro Da Arte – Geoffrey Hindley;
Anjos/Uma espécie em extinção – Malcolm Godwin;
Novo Testamento – Dr. P. Frei Alcindo da Costa,formado pelo Instituto Bíblico de Roma;
História do Sameiro – Padre Fernando Leite, S.J.
No estudo, foram incluídas a Biografias das Personalidades representadas no painel.